quarta-feira, 16 de março de 2011

Está tudo de pernas para o ar, tudo fora do lugar. No meio da confusão, é possível ver cena No nordeste do Japão é a estridência das sirenes que toca os ouvidos o tempo todo. Bombeiros, exército, marinha. No mar, um barco não para de rodar a procura de corpos. O centro de Kesennuma ficou arrasado, suas lojas devastadas. Uma senhora vendia peças delicadas de cerâmica. Apesar de umas sacolas na mão, com certeza não sobrou nada das mercadorias dela. Ela conta que no dia ela só teve tempo para escapar, que foi tudo muito rápido. Muita gente não teve essa sorte e desapareceu. O que é estar na janela vendo a vida, vendo um tsunami passar? A mulher tinha um lugar na primeira fila, de frente para a baia. Naquele dia por um vazamento de combustível o mar pegou fogo e os barcos iam sendo envolvidos pelas chamas. Para apagar o fogo, numa próxima vez, um senhor limpa o extintor. São cenas assim, de pessoas tentando botar ordem no caos, que se pode ver o tempo todo. A vontade de arrumar, o meticuloso estilo da cultura japonesa se revela nesses pequenos detalhes. É o cachorro esperando o dono. É a população esperando que o governo resolva algo que, de sexta-feira pra cá, se parece mais com o apocalipse. Terremoto, tsunami, acidente em usina nuclear. O governo anuncia racionamento de energia. Segunda-feira a bolsa de Tóquio abre e as ações despencam, o governo tem que injetar bilhões de dólares na economia para sustentar o valor do yen, moeda local. Esse é o Japão em estado máximo de emergência. Kesennuma, como tantas outras cidadezinhas, pra muitos já deu, não tem mais como continuar. É pegar o que restou e puxar o barco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário